Tuesday, February 28, 2006

How do I quit you?

Sem exageros. Com algumas cenas fortes. Com muitas cenas revoltantes.
Em que é que de tão profundo nos magoa a homossexualidade que nos leva a repudir de tal modo aqueles que discreta ou ostensivamente o são? Será a ameça de nós próprios podermos vir a sê-lo? E se o formos? Ou bi-sexuais? O exercício do sexo é assim tão importante?

É uma temática que desde sempre me tocou profundamente em termos científicos. A cultura de facto exerce tamanha pressão na nossa vida que abdicamos muitas vezes dos nossos caminhos para aplacar as exigências (necessidades) da sociedade.

Pois a espécie humana precisa de facto de reprodução, mas a que custos? Que produtos positivos poderão sair de sonhos não vividos? O objectivo de uma família é fornecer a sociedade de crianças? Ou proporcionar a estabilidade emocional e integração afectiva dos casais e respectiva prole? A família não é suposto ser fonte de amor?
E não poderemos nós ter relações de amor sem que possam ser num contexto de relacionamento reconhecimento civilmente? E não poderão as pessoas escolher como viver seus afectos e sua sexualidade livremente?

São muitas questões.
Ousem fazê-las.
E, by God, não rejeitem ver este filme porque é sobre gays e podem ser confundidos. Sei que estão mortinhos para o ver. Assim que o tiver empresto-o a todos os meus amigos homens porque sei que estão cheios de curiosidade. Ver não contagia. A sério. E se contagiasse era uma doença da qual podias sair mais saudável e mais feliz.
O único amigo homem que aceitou ir vê-lo comigo fê-lo porque não sabia de que se tratava (sim, há pessoas que ainda andam mais fora do ar do que eu ;), a falta de TV deixa-nos fora da civilização!). Sim já sei terias ido à mesma.

Agora se querem saber em termos de filme em si o que é que eu achei...
Os ritmos são uma porcaria. Como disse a minha amiga Sofia, é um tédio, quase adormeci. É verdade. Está muito mal pontuado.
As paisagens são lindíssimas. A música é razoável. Eles, como tantos outros gays, são muito giros. A realidade, nua e crua. E cruel.
Seria amor? Seria (homos)sexualidade? Seria apenas a solidão e o facto de estarem isolados? Seria talvez um alimento da nostalgia de um passado mais feliz em que se viveu uma vida à margem de tudo num excerto idílico, como se de um pequeno big-brother se tratasse no qual Ennis e Jack viveram em perfeita harmonia por estarem sós... Mais perguntas. A vida ao invés de nos dar certezas, dá-nos sempre mais perguntas. Mais questões existenciais. Sobre nós e sobre o mundo. É sempre assim, a vida troca-nos as voltas.

How do I quit you?
Como se deixa de amar alguém? É possível?

Monday, February 20, 2006

stress do combatente

Munique.
17:05
Sim, é um filme acerca de (anti-)semitismo, sim um filme de história, sim uma produção Spielberg.
Ouvi uns comentários acerca do facto do próprio realizador ser descendente de judeus e isso ter alguma interferência nos acontecimentos versados. Uma característica importante é que o filme é "inspirado" em factos reais. Não, não é à toa. A arte surge da inspiração e não da tradução. Apesar de ser pessoalmente sensível às causas defendidas pelos israelitas, penso que o filme procura traduzir com a maior veracidade as ocorrências. A verdade por trás da verdade. A semelhança entre os lados, os objectivos, o espírito. A parte ideológica da causa do povo de Israel. Assim como o reverso da medalha.
E acima de tudo o que mais me impressionou na película foi a forma como os sintomas de stress do combatente apareceram: do indivíduo comum (mas crente na sua nação e respectivos valores) ao assassino brutal que não deixa, apesar de tudo, de amar a sua família e ser uma pessoa, que chora e que sofre. Não existe um preto e um branco absoluto, tudo se processa ao longo de um continuum, mas dói perceber como os sintomas de paranóia tomam posse do indivíduo e este se torna progressivamente assustado com tudo e todos. Os flashbacks, dele ou de outros, intensificam esta sensação. Os acontecimentos traumáticos não pararam, assaltam-no(s) a cada momento. Dos fracos não reza a história, mas de alguns heróis nunca ouvimos falar, e eles estão mais perto do que possamos pensar.

Saturday, February 18, 2006

Johnny Cash


Ontem, 21.40.
Curioso: não havia bilhetes para o filme que eu queria ver, e eu tinha mesmo que ver um filme ontem à noite. A senhora da bilheteira propôs-me um e outro e... lá calhou este, que eu provavelmente não escolheria ver. Às vezes as birras traduzem-se em desígnios do destino... Deus não dorme! E o destino persegue-nos. Mas, não era bem sobre isso que eu queria falar.

Ok, confesso que conhecia o nome do cantor mas não fazia a menor ideia do género de música que o tipo tocava/cantava. Mais uma vez, às cegas, como quando fui ver o Million Dollar Baby e nos primeiros cinco minutos só pensava em levantar-me e sair porta fora porque detesto boxe e actividades relacionadas. Às vezes o que está por baixo do fino véu das aparências é bem distinto.

É uma história de amor. É uma história de arte. O tipo é excelente cantor, tem personalidade, mas tem uma falha narcísica brutal que cobre com esse ENORME amor pela June. E a June é fantástica, tem estilo, tem wit, tem vida. Amigos meus diriam, viste o que fazem as mulheres? Pois eu vos respondo, viram o que vocês fazem pelas mulheres? O amor tem feito coisas que até mesmo Deus duvida...
De volta ao mundo das drogas, das forças armadas e da falta de amor, Johnny Cash é famoso, e ao fim acaba por ser um tipo feliz. Walk the line, 136 min, num cinema perto de si.