Sunday, January 29, 2006

A minha vida sem artes e letras...

Pois decorria, triste, enfadonha e vazia, a minha vida sem artes e letras.
É inimaginável o efeito da ausência de cinema, teatro, livros e outros espectáculos para a mente que com eles sempre privou. Não sendo estes imprescindíveis à sobrevivência da alma, assumem um tal papel quando as privações são tantas, tantas... E não é à toa que os gregos usavam o teatro como catarse.
Eu cá, que não vejo televisão, não leio revistas de divulgação e passo a semana sem interlocutores, um belo dia lembrei-me que precisava, com urgência, de nutrir a mente. Aqui está o resultado disso.
Ir ao cinema ou ler um livro como entretenimento não basta, é preciso reflectir, conversar e partilhar. É preciso sentir para viver.

Saturday, January 28, 2006

Divã... how appropriate!


Na embalagem da peça do dia anterior, consigo rapinar a minha mãe de casa (ela que nunca sai...) e levá-la a ver mais uma peça, que ela me tinha confessado querer ir ver. Porque achava que o tema interessante e a actriz compatriota lhe era querida.
A minha curiosidade psi mirone também não lhe ficava atrás.
É curioso como eu acho que às vezes faz falta à minha mãe ter esta menina para falar, assim como me faz falta a mim ter a minha menina mãe...

A Lília Cabral tá fabulosa. E eu e a mãe lá em cima do balcão, à socapa, sozinhas, rimos e suspirámos de montão!
O cenário tá supé-giro e a expressividade, a tão típica dos brasileiros.
Uma mulher de 40 anos começa a ir ao psicanalista casualmente... Ou não! A história diz muito à mulher dos nossos tempos. E muito mais a quem ouve essas histórias como parte do seu quotidiano (profissional), aliás, um dos comentários que se lia sobre a peça era "Você está convidado para conhecer um mundo onde nenhum homem ousou chegar, a mente feminina." Mas se assim é, onde estavam os homens, para entrar pelo universo adentro da mente feminina e passarem a fazer tudo direitinho?
Se esta questão que eu coloquei identificar o que sentes, aconselho-te vivamente a ler "Os homens são de Marte, as mulheres de Vénus" de John Gray, para perceberes o que é que se passa dentro da cabeça deles.
Teatro Tivoli, em Lisboa (já saiu de cena)

Friday, January 27, 2006

Tu és... a canção de Lisboa!


27 de Janeiro de 2006.
Estou a explodir de stress.

Tenho um trabalho de grupo para entregar no Mestrado. Minto, dois trabalhos de grupo. Um deles fica pronto durante a noite. Preciso dormir umas horas... Durmo. Acordo. Há mais um trabalho para fazer durante o dia. Em meio a fait divers da vida doméstica pela residência coimbrinha que incluem a electricidade ir abaixo e correspondentemente perderem-se algumas partes do trabalho como é óbvio, uma explosão temperamental feminina como é tão típico, algumas desavenças, muito desejo de interromper o trabalho e pedir novo adiamento à Professora...
Tudo isto motivado, claro, pelo meu forte desejo de, realmente sair de Coimbra a tempo e horas para poder ir ver o musical "A Canção de Lisboa", para o qual os meus pais tinham arranjado bilhetes e me dito para pôr na agenda um mês ou mais antes... Porquê eu, porquê agora, porque é que eu não consigo fazer nada em condições e me comprometo com tudo e com todos?
Querem saber?
Afinal com a ajuda e infinita paciência da minha colega de grupo, consegui acabar a parte do trabalho que faltava, imprimi-lo e ainda levá-lo à faculdade (depois acabei por não o poder entregar porque... isso já é outra história!), pôr-me no carro a toda a brida para Lisboa, não matar ninguém pelo caminho, stressar de montão com a minha fobia social e os milhares de carros que circulam em Lisboa numa noite de sexta-feira, enlouquecer para arranjar um lugar de estacionamento, pagar o estacionador para não me fazer mal ao carro e ainda chegar só meia hora atrasada ao espectáculo, rir, chorar, suspirar, cantar, aplaudir e, enfim, entregar-me à catarse que uns bons minutos de show-biz me proporcionaram através de uma peça cheia de som, cor, vida, humor!
O Filipe La Féria de facto está de parabéns e eu satisfeitíssima que nem um anjo pude limpar a alma das preocupações estudantis e profissionais nessa noite e dormir tranquilinha em casa da mãe, em Lisboa, novamente, segura...

Ah! Mas queriam o comentário da peça???
É assim.
Eu não conhecia. E nem tive tempo para me informar antes, ao contrário do que me é habitual. Neurótica relaxadaaaaaaaaa...
Rusticamente, é a história do Vasco, um estudante transmontano de Medicina em Lisboa que de facto faz tudo o que é próprio de estudante, menos... estudar (se calhar isso também é próprio da maior parte dos estudantes!). É um trafulhas, tem resmas de dívidas e... de namoradas. Quase perde tudo quando a verdade vem ao de cima, mas acaba por descobrir que na verdade sabe tudo e passa no exame oral final do curso e ainda reconquista a princesa dos seus olhos, a Alice.
Vale a pena ver. É cheio de cor e de vida e de humor. O Filipe está lá sempre a animar a plateia e a sua equipa, o que realmente atesta o seu grau de envolvimento com o seu produto de arte.
É também extraordinariamente interessante ver este pedaço da nossa cultura que retrata a nossa Lisboa nos anos 30, a vida estudantil, a vida bairrista, a sociedade vigente, as tradições alfacinhas (as marchas populares do Santo António e, claro, o fado!) numa versão mais actualizada.

E não se espantem se alguns dos típicos lisboetas forem demasiado loiros ou brancos para o que é habitual no povo português... É que contamos entre nós com imigrantes de países de Leste com formação na área das artes dramáticas e circenses de enorme qualidade. E o La Féria obviamente é pela inclusão das minorias étnicas.

Teatro Politeama, em Lisboa